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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Estação do Medo - por Harlen Quaranta


ESTAÇÃO DO MEDO

Harlen da Luz Quaranta
harlenquaranta@ig.com.br



Existe uma estação do ano em que meu ouvido passa por um fenômeno, diagnosticado como “ceração” pelo otorrino, ocasionando a surdez parcial. É como se eu ficasse sem retorno e com um retumbo no ouvido, situação incômoda que me leva sempre ao seu consultório. Desta vez especificamente veio mais complicada e por isso só medicamentos não foram o suficiente e, para ele entender melhor o fenômeno, solicitou um ultrassom das vias auditivas. Pedido na mão, marquei o exame no laboratório e no dia marcado lá estava. O que mais me preocupava era  ficar surdo, afinal a coisa já estava complicada, não vamos complicar mais, não é mesmo? Cheguei na hora marcada, mas como sempre tive que esperar um pouco mais, mas nada que agravasse a situação. Aí surge sempre um bate papo nestes entremeios pra descontrair, mas sempre que o papo é bom, a gente é chamado, é sempre assim, já perceberam isso? E como sempre acontece, o técnico me chamou, entrei em uma sala, ele avaliou o pedido e passou as instruções:
– Se o senhor estiver usando correntinhas, brincos, arcos de metal, etc., gentileza retirar.
Daí pediu que eu me deitasse em uma maca, e muito falante, parecia querer me tranquilizar, pois eu já estava ficando apreensivo. Pra mim era uma situação diferente, nunca tinha me deitado em uma maca para fazer exames, e lá estava eu. A situação piorou quando o técnico começou a me amarrar na maca com umas correias. Aí o coração já estava a mil, então não me aguentei e perguntei:
- Que exame complicado é esse amiguinho, até minha cabeça, você já amarrou?
- Não precisa se preocupar são os procedimentos.
A apreensão aumentava a cada procedimento, afinal se o ultrassom era das vias auditivas, porque me amarrar todo? Mas seguimos. Daí o técnico ligou a máquina, que deu um tranco e começou a funcionar, eu todo amarrado mal dava pra ver a minha volta, mas percebi que ele saiu correndo da sala para fora, provavelmente pra se proteger da radiação. Aí eu gelei todo, e o que era medo, passou a ser um pavor! Então a máquina começou a movimentar em direção a uma espécie de túnel, eu todo imóvel entrei neste túnel, amarrado de barriga pra cima, começei a ver uma série de luzes da máquina girando, o trem parecia uma nave espacial, destas de “Guerra nas estrelas”. Passou um filme na minha cabeça, e o exame nada de acabar, parecia uma eternidade. Depois de um tempo, para meu alívio o técnico voltou, soltou as correias. Eu meio zonzo desci da maca e ele querendo se gentil soltou uma máxima:
- Volte sempre!
E eu que parecia até já estar escutando perfeitamente bem, retruquei.
- Deus que me livre!
Mas o importante é que naquele momento o medo cessou, a estação acabou e eu aqui estou ouvindo vocês. Espero que na próxima estação, essa tal ceração não mais apareça e eu não precise passar por este medo outra vez.

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